Quando eu era mais nova, e por consequência
mais imatura, adorava viver o mundo fictício de Pollyanna e acreditava que o
jogo do contente era a melhor alternativa de sobrevivência que eu tinha para me
oferecer. Embalada também pelas irritantes e sorridentes princesas, que mesmo
imersas num mundo de crueldade estavam sempre sorrindo e cantando, acreditava
que tudo o que acontecia comigo havia de ter um lado bom.
Os anos passaram e de menina sonhadora, passei
à menina que deturpava sua própria realidade. Por exemplo, se eu não tinha a
tão sonhada calça jeans do momento, vestia qualquer uma que eu tivesse e
imaginava que estava usando a outra. Se não podia ter uma escrivaninha, pregava
uma tábua aqui, outra a li e voi lá,
fantasiava que aquela era a melhor que qualquer garota poderia ter. Imaginava
que eu era famosa e todos estavam me olhando, imaginava que eu era mais velha e
que o meu quarto era um apartamento, imaginava que eu era bruxa e tinha
poderes. E esses momentos não se restringiam a minutos durante um dia, eles se
tornavam a minha vida e eu mergulhava nesses outros “submundos”.
Só que o imperdoável tempo passou e o meu antes
irrestrito poder de imaginação diminuiu. Criar tantas realidades fictícias já
não era mais possível ou viável. E foi justamente nessa época que eu fui atirada
no ensino médio. Paixões platônicas, pelos indesejados, novos padrões de
beleza, comparações com as outras meninas, decisões sobre o futuro. Não havia
mais como se ludibriar. As responsabilidades vinham chegando e eu não podia
mais me esconder atrás da mesma menina de antes.
Acredito que esse momento de transição para a
vida adulta seja um grande marco na vida das pessoas em relação a maneira como
se explora a realidade. Já não há mais como fugir dela, é preciso aprender a
lidar com ela e vive-la como ela realmente se apresenta, nua e crua.
Contei um pouco da minha vida porque agradeço
imensamente à todas as meninas que eu fui. Talvez se eu não tivesse vivido
intensamente cada sonho, cada ilusão e me deparado com as suas consequências,
hoje não seria essa pessoa que procura sempre perceber a vida como ela se
apresenta. Sem se conformar e sem dramatizar. Não vamos entrar no mérito de que
nessa análise, nessa percepção não existe uma verdade absoluta, pois a forma
como eu constato a minha realidade pode ser diferente da sua. Porque no fim a
constatação que realmente importa é a que é feita por você, que conhece suas
crenças, suas virtudes, suas fraquezas, seus valores e suas prioridades. Foi
você quem caminhou até aqui, venceu cada obstáculo e conhece cada história das
suas cicatrizes. Então, aproprie-se de todo o seu histórico e dê uma olhada
para trás como forma de agradecer à você mesmo por ter sido capaz de ter
chegado até aqui. As escolhas que hoje você pode considerar erradas foram as
que você esteve disposto a fazer naquele determinado momento. E ao invés de se
encostar num muro de lamentações, analise como hoje você pode agir diferente.
Convido vocês a refletirem sobre o assunto e se
atentarem à realidade que vivem hoje, sem fantasias, sem culpas ou desculpas,
tentando ao máximo se despir de julgamentos e preconceitos. A princípio pode parecer
uma atitude fácil, mas experimente trocar a lente e ir até além das coisas como
elas se apresentam. Enumere todas as
suas qualidades facilitadoras e os seus possíveis empecilhos que te impedem de
ir aonde você deseja chegar. Procure ajuda se for necessário, leia, separe um
tempo pra você. O importante é não se desesperar e entender que sempre existe
um dia após o outro e que sempre é hora pra se autoconhecer no intuito de se
tornar alguém mais realizado, mais satisfeito e consequentemente, mais feliz.
Beijo beijo
por Juliana Baron Pinheiro
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